Introdução: O Primeiro Dia de Interrogatórios no STF
Nesta segunda-feira, 9 de junho de 2025, o Supremo Tribunal Federal (STF) deu início à fase de interrogatórios dos réus acusados de participação na trama golpista de 2022, que visava manter Jair Bolsonaro no poder após sua derrota nas eleições. O primeiro a depor foi o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e principal delator do caso.
O depoimento ocorreu no plenário da Primeira Turma do STF, sob a condução do ministro Alexandre de Moraes, relator do processo. Cid confirmou detalhes cruciais sobre a minuta golpista, incluindo alterações feitas pelo ex-presidente, e revelou novos elementos sobre o envolvimento de outras autoridades.
Mauro Cid Confirma que Bolsonaro Alterou Minuta Golpista
O Conteúdo do Documento
Durante seu depoimento, Mauro Cid descreveu a minuta golpista como um documento dividido em três partes:
- Considerandos: Cerca de 10 a 12 páginas com acusações de interferência do STF e do TSE no governo Bolsonaro e nas eleições de 2022.
- Fundamentação Jurídica: Abordava medidas como estado de defesa, estado de sítio, prisão de autoridades e a criação de um conselho eleitoral para anular as eleições e convocar um novo pleito.
- Proposta de Novo Pleito: A minuta previa a anulação da eleição de 2022 e a realização de uma nova votação.
As Alterações de Bolsonaro
Cid afirmou que Bolsonaro recebeu, leu e modificou o documento. Segundo ele, o ex-presidente “enxugou” a minuta, retirando a previsão de prisão para diversas autoridades, mas manteve apenas Alexandre de Moraes como alvo.
“Ele enxugou o documento, retirando as autoridades das prisões. Somente o senhor [Moraes] ficaria como preso. O resto, não”, declarou Cid ao ministro.
A fala foi seguida por uma brincadeira de Moraes, que respondeu: “Ao resto foi concedido habeas corpus”, provocando risos até do ex-presidente Bolsonaro, presente no plenário.
As Reuniões e o Envolvimento de Outros Réus
Encontros com Bolsonaro
Mauro Cid confirmou que participou de pelo menos duas reuniões nas quais o ex-assessor Felipe Martins apresentou a minuta a Bolsonaro. Nessas ocasiões, o ex-presidente discutiu e propôs alterações ao texto.
O Papel de Walter Braga Netto
Um dos momentos mais impactantes do depoimento foi a revelação sobre o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e vice na chapa de Bolsonaro em 2022. Cid afirmou que Braga Netto entregou uma caixa de vinho cheia de dinheiro para financiar uma operação que, posteriormente, foi interpretada como um plano para assassinar Alexandre de Moraes.
“O general Braga Netto trouxe uma quantidade de dinheiro. Com certeza não foram os R$ 100 mil. [O dinheiro] foi passado para o major Oliveira. Eu recebi do general Braga Netto no Palácio da Alvorada. Estava numa caixa de vinho”, relatou Cid.
Classificação dos Militares Envolvidos
Cid também categorizou os militares investigados:
- Almir Garnier (ex-comandante da Marinha): Classificado como “radical radical”.
- Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto: Considerados “moderados”, atuando para influenciar Bolsonaro.
A Delação Premiada e as Controvérsias
Frustração com a Linha Investigativa da PF
Mauro Cid expressou frustração com a interpretação da Polícia Federal (PF) sobre suas declarações. Ele afirmou que sua visão dos fatos não coincidia com a linha investigativa adotada.
“Eles tinham uma linha investigativa, e eu tinha outra visão dos fatos. E houve uma frustração do que eu estava contando não estar na linha investigativa da PF”, disse Cid.
Áudios Vazados e Pressão
Questionado sobre áudios vazados em que falava sobre pressão para delatar, Cid afirmou que se tratava de um “desabafo para um amigo”, feito em um momento de crise pessoal e financeira.
Próximos Passos: A Ordem dos Depoimentos
Os interrogatórios seguem até sexta-feira, 13 de junho, com a seguinte ordem:
- Mauro Cid (delator) – 9/06.
- Alexandre Ramagem (ex-diretor da Abin) – 10/06.
- Almir Garnier (ex-comandante da Marinha) – 11/06.
- Anderson Torres (ex-ministro da Justiça) – 11/06.
- Augusto Heleno (ex-GSI) – 12/06.
- Jair Bolsonaro (ex-presidente) – 12/06.
- Paulo Sérgio Nogueira (ex-Defesa) – 13/06.
- Walter Braga Netto (videoconferência) – 13/06.
Conclusão: O Impacto do Depoimento de Mauro Cid
O depoimento de Mauro Cid reforçou as acusações contra Bolsonaro e seus aliados, confirmando a existência de um plano para subverter a ordem democrática. As revelações sobre a minuta golpista, as alterações feitas por Bolsonaro e o envolvimento de Braga Netto no financiamento de operações ilegais devem influenciar decisivamente o julgamento final, previsto para o segundo semestre de 2025.
Com os próximos interrogatórios, espera-se que novas informações surjam, aprofundando o entendimento sobre a trama golpista e seu impacto na democracia brasileira.